Experiências interessantes de organizações comunitárias que trabalham no aproveitamento dos frutos do Cerrado vêm sendo desenvolvidas no Norte de Minas e têm demonstrado que é possível promover sua conservação e ao mesmo tempo gerar renda às suas comunidades. No Norte de Minas, o povo tradicional das áreas de Cerrado é conhecido por Geraizeiro.
Os sistemas de produção dos Geraizeiros consistem no plantio de lavouras diversificadas associadas à criação de animais e à preservação do Cerrado, como parte da estratégia produtiva a utilização da flora vem fornecendo, de forma extrativista, alimentos, remédios, forragem para o gado, fertilizantes, energia, fibra, resina, goma, matérias de construção, dentre outros recursos. Mas não há dúvida de que o mais importante é o uso de seus frutos como alimento.
Assim, devido aos Geraizeiros, o Norte de Minas ainda é caracterizado como importante área do Cerrado brasileiro, constituído por uma riqueza cultural associada ao agroextrativismo, do qual o pequi é o principal fruto extrativo.
A organização comunitária vem trazendo importantes benefícios aos Geraizeiros, tais como o intercâmbio de informações, a melhoria de qualidade de vida das pessoas, o aprendizado, o investimento, o aumento da renda, a oportunidade de diálogo entre poder público e sociedade, bem como a crença no potencial de transformação social e maior respeito ao bioma do Cerrado.
A seguir, alguns exemplos dessas organizações que desenvolveram um profundo conhecimento da biodiversidade do Cerrado e combinam dentro de sistemas produtivos a agricultura e o extrativismo.
Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão
Fundada em 2003, mas com uma longa história de luta e organização, a Grande Sertão está ligada à atuação do Centro de Agricultura Alternativa, entidade que desde 1986 presta assessoria em agroecologia e desenvolvimento sustentável às organizações de agricultores do Norte de Minas.
A Cooperativa apóia a organização da produção e oferece infra-estrutura de transporte, beneficiamento e comercialização. Seus objetivos são buscar alternativas econômicas dentro dos princípios da sustentabilidade e ser um instrumento de suporte legal para comercialização da produção, possibilitando assim o acesso ao mercado consumidor.
Atualmente a Cooperativa beneficia e comercializa vários produtos: rapadura, açúcar mascavo, cachaça, pequi, óleos vegetais, sementes e polpas congeladas de frutas na sua maioria nativas do Cerrado, como a cagaita, coquinho azedo, araçá, cajá, umbu, entre outras. A produção envolve aproximadamente 3.600 agricultores, distribuídos em cerca de 400 comunidades rurais (algumas possuem unidades de beneficiamento próprias) de mais de 38 municípios do Norte de Minas (dados de 2008). Atualmente, 171 agricultores (as) extrativistas são cooperados.
Cooperativa de Catadores de Pequi de Japonvar – COOPERJAP
Criada em 1998, envolvendo diversas associações de produtores do município de Japonvar, os cerca de 200 cooperados vêm, desde 2002, recebendo apoio do Small Grants Programme (SGP), conhecido como Programa de Pequenos Projetos (PPP-ECOS) – uma linha de incentivo a projetos de conservação e uso sustentável da biodiversidade do Cerrado. Outro fator de grande importância na estruturação da COOPERJAP foi sua inclusão na modalidade do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) chamada Compra para Doação Simultânea, executada pela Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB. Por meio da garantia de compra, os cooperados atuam e no beneficiamento de frutos do Cerrado para o abastecimento das escolas públicas. Esse programa vem aumentando a renda dos cooperados, bem como incentivando o plantio de frutíferas e ampliando a divulgação da COOPERJAP.
Atualmente envolve nove comunidades, dentre as quais sete têm unidades de processamento de pequi, chamadas de mini-unidades de despolpa. Essas unidades recebem o fruto inteiro e realizam o processamento inicial da polpa. O trabalho envolve de jovens a adultos e assim oportuniza a fixação dos mais novos nas áreas rurais.
Pequi em Conserva e Licores |
O processamento do pequi tem se mostrado importante na geração de trabalho e renda, inclusão social, organização comunitária, valorização do produto, redução de desperdício dos frutos, ampliação do tempo de comercialização, bem como na divulgação do município.
Cooperativa Agrossilviextrativista Sertão Veredas
Criada em 2006, por agricultores familiares que vivem em comunidades dos municípios da região do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, do Parque Estadual Serra das Araras e da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari, a Cooperativa vem organizando a produção juntamente com as comunidades tradicionais e quilombolas, os quais somam 48 cooperados que atuam na cadeia produtiva do Cerrado, nas atividades de coleta, transporte, classificação, padronização, armazenamento, beneficiamento e comercialização de frutos, farinha de mandioca, açúcar mascavo, rapadura, castanha de baru, mel, licores, dentre outros produtos.
Exposição de produtos na loja da Cooperativa |
Artesanato |
Castanha de Baru |
Licores |
Associação dos Pequenos Produtores de Derivados de Frutos do Cerrado – ASFRUCE
Fundada em 2006, na cidade de São Francisco, com objetivo de gerar renda, inclusão social e aumento da qualidade de vida do homem do campo, através do extrativismo e beneficiamento dos frutos, castanhas e oleaginosas predominantes no Cerrado norte mineiro, com o compromisso do desenvolvimento sustentável, de forma organizada e responsável.
Sede da ASFRUCE |
Lavagem e seleção do Umbu para despolpa |
Lavagem e seleção das frutas |
Máquina de envazar |
Castanha de Baru |
Despolpadeira de frutas |
Fonte: A Cadeia Produtiva do Pequi no Norte de Minas Gerais / Sandra Regina Afonso & Igor S. H. de Carvalho. Brasília, 2009. Folder Institucional da Cooperativa dos Agricultores Familiares e Agroextrativistas Grande Sertão. Folder Institucional da Associação dos Pequenos Produtores de Derivados de Frutos do Cerrado de São Francisco - ASFRUCE. Fotos da Cooperativa Agrossilviextrativista Sertão Veredas e da ASBRUCE de Rosana Zauli e Fotos de divulgação Institucional.